Programa do Recital Didático

Programa
1. La Cathédrale Engloutie (profondément calme), 1910
Claude Debussy
Trata-se da 10ª peça do Livro de Estudos I. São dois livros que totalizam
vinte e quatro estudos para piano. Em sua complexidade, predominam
acordes medievais extensos e de longa duração. Além da suspensão
não resolutiva, linguagem criada por Debussy em resposta à crise
tonal, há um constante deslocamento do centro tonal, que não segue
as variações tradicionais em torno de tônicas e dominantes. A peça é
inspirada em um poema de Mallarmé, poeta maldito, que narra a lenda
Bretã do séc. XI sobre a Catedral Ys que afundou no mar, condenada
em função da corrupção dos seus sacerdotes, e que emerge a cada
cem anos. Ouve-se as ondas do mar quebrando nos blocos da catedral
tomados por vegetação marítima e nos sinos que badalam enquanto
ela emerge. Em seguida o canto dos sacerdotes fantasmas, e, após
um momento de suspensão, a catedral sendo engolida novamente. É
impressionante ouvir no mundo impressionista de Debussy, como uma
estrutura tão pesada pode flutuar tão levemente.

2. Prelúdio nº 2 em Ré menor, 1722 - J. S. Bach
Este é o 2º Prelúdio, dentre os 24 que compõe o primeiro volume de O
Cravo Bem Temperado. Sua característica simétrica é notável tanto
no movimento contrário das mãos, quanto na distribuição melódica
entre as mãos na cadência e no recitativo (trecho final da peça). O
Cravo Bem Temperado é considero, junto às 32 Sonatas de Beethoven,
a obra mais importante escrita para instrumento de tecla. Também
considerado a obra fundamental da harmonia moderna. A música de
Bach é exemplo do contraponto barroco.

3. Sonata quase uma fantasia op. 27 Nº 2, 1º movimento (adágio
sostenuto), 1801 - L. van Beethoven
São 32 as sonatas. A op. 27 marca o segundo período da criação de
Beethoven, dando um passo em direção ao romantismo. No 1º
movimento são exploradas as qualidades cantantes do piano de
maneira absolutamente nova: a melodia paira soberana sobre
imperturbável desenho cuja monotonia, aliada ao canto profundo dos
baixos, consegue a perfeita descrição da forma sonata.

4. Prelúdio op. 28, Nº 15 ‘Raindrop’ (sostenuto), 1838
Frédéric Chopin
Entre os 24 Prelúdios compostos por Chopin, este tem característica
de Noturno marcado por um Ostinato* da nota lá bemol, por isso tornouse
conhecido como Gota de Chuva. Sua forma é A-B-Coda. Trata-se
de um exemplo de monodia acompanhada, recurso típico do período
clássico e romântico. A harmonia se estrutura em linhas verticais,
substituindo as linhas horizontais do período barroco.
* Ostinato (do italiano, teimoso, obstinado) se refere a um padrão
rítmico, melódico ou harmônico constantemente repetido ao longo da
música. Recurso muito usado no Barroco, no jazz e na música Modal.

5. Choros nº 5, Alma Brasileira, 1925
H. Villa-Lobos
Esta peça, junto ao Ciclo Brasileiro, tem por característica fundamental
a polirritmia. Villa-Lobos retorna de sua primeira viagem à Europa e
dedica-se à experiência que o leva à absorção do folclórico e do popular
pelo clássico, passeando por regiões do Brasil. A estrutura é A-B-C-A,
sendo A um Moderato dolente de característica rural e melancólica; B,
Un poco piu moto, evoca danças alegres do nordeste; C, Bem ritmado,
traz elementos de danças indígenas. A repetição de A, termina com
um rabisco trágico.

6. Seis Peças para Piano op.19, 1911 - Arnold Schoenberg
Estas peças atonais situam, historicamente e de maneira exata, uma
tendência musical nova, o estilo aforístico. Sua proposta é a de fazer
ouvir, num tempo mínimo, acontecimentos musicais geralmente muito
contrastantes. É o atematismo no seu aspecto mais puro, talvez só
realizável completamente em dimensões reduzidas. Serão
apresentadas as peças 2 Langsam, 3 Sehr langsame e 6 Sehr langsam

7. Metamorphosis I, II e III, 2005 - Philip Glass
A música minimalista expõe processos sonoros a nu, que parecem se
realimentar não da intervenção do artista, mas da sua própria lógica
autônoma até atingirem a entropia. Aqui é a repetição insistente que
engendra diferença, através da introdução de pequenos elementos
(como uma simples acentuação) que alteram gradualmente a paisagem
de um motivo que se repete. Glass trabalha com materiais de natureza
tonal, arpejos submetidos a um “processo de progressão aditiva”,
superpostos e combinados em movimentos contrários, paralelos, que
se subdividem em recortes rítmicos e produzem texturas estáticas, ao
invés de progredirem cadencialmente. Esta forma de trabalhar os
materiais sonoros cria climas teatrais e ambiências extáticos, algumas
vezes magníficos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário